A Feira do Livro do Marco de Canaveses: vazio intelectual

Em dia tão celebrativo como o 25 de Abril, eis que se me assaltou, de súbito, tremenda indignação sobre os literários da terrinha. Sobre a feira do livro que tão gloriosamente exaltam. Afinal, haverá de ser cousa ao alcance de muito poucos lançar livros de conteúdo vasto, não tivessem sido imensas as horas passadas com sobressalto para que a sua obra fosse de bradar aos céus.

Há, todavia, certas observações pendentes. Desde logo porque se o público-alvo não estiver familiarizado com grandes obras literárias, se nunca ousou abrir horizontes e ler os grandes pensadores que galoparam pelos séculos, o desfecho torna-se, à partida, deveras incongruente. Perguntais-me porquê, e perguntais com legítimo interesse. Pois bem, tentarei responder-vos imediatamente.

É incongruente na justa medida em que o público, a gente que comprará os livros destes sofismáveis autores da terrinha, e desculpai por intitular-vos assim tão modestamente, será o público que talvez nunca leu um livro na vida. E quem leu algum, talvez tivesse lido o mais básico para não se afrontar aterrorizado com a sua pequenez.

Relativamente aos autores, entendamos que grande parte do círculo acha sobretudo importante expor-se como escritor. Homens de sonhos, com vários livros editados na sua humilde pessoa. Sejam esses livros do mais medíocre que possa existir, que tenham eles os erros mais infantis do português de Camões que Pessoa tão bem aperfeiçoou. Que importará, afinal de contas? Eles vendem. O público bate palmas. E o discurso vai fluindo, cheio de incerteza, cheio de vazio, mas com força que baste para um dia dizerem que foram os melhores escritores da terrinha.

E assim sucumbe toda a esperança do processo criativo genuíno, cismático e libertário que qualquer artista devia ter para si; sucumbe assim o processo demorado e trabalhoso que uma obra literária necessita para ser exposta. O escritor é o que nunca havia sido: um ser aterrador que compõe em quantidade, sem qualidade.

Álvaro Machado - 18h50 - 25.04.2016

Comentários

  1. Ía escrever qualquer coisa agora mas não tenho tempo...
    Nada me sai, nada me ocorre, nada me transcende...
    Talvez amanhã consiga! Não sei!
    Ou então, sei lá, obrigo-me a escrever hoje?!
    É isso... "Objectivo definido" : escrever ...
    Abr :)

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    1. Amigo, infelizmente os ignorantes continuam a achar-se senhores da verdade e a não respeitar a opinião dos outros. Haja liberdade!

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