Velocidade de condenado


Íamos a alta velocidade nesse caminho cheio de súbitos desníveis. Eu encontrava-me voltado para o caminho que havíamos percorrido e o que inda estaríamos por percorrer quando, fruto do acaso, os homens defronte começam a conversar entre si.

- Esta gentinha, sabe, são uma maçada! Pedi-lhes que me indicassem o caminho para o bar, quase ignoravam, mantendo sempre a distância das palavras de seus semblantes pálidos e carregados de desconfiança. Como foi possível mudar tanto a mentalidade passados 30 anos? Onde está o amor pelo próximo, o respeito das origens de cada um de nós? - lançara-se de vastas questões o senhor de camisa aos quadrados, metade vermelha, metade preta.

- Nem me diga nada! Longínquos vão os tempos aonde os sentimentos se expressavam frente a frente - olhos, saliva, cabelos oleosos...
E se for descendo por esse país fora, mais perto do Sul e afastado das terras nortenhas, hão-de ignorá-lo ao ponto de se achar invisível. Ou de estar tudo louco. Enfim, as ditas modernices, evolucionismo retrógrado, passe-se a incoerência discursiva.

Esqueci-os. Mas lá que tinham a sua razão isso parece-me inegável, não concordais? O comboio, porém, continuara a sua viagem: e assim como ele, também eu continuei a ler o meu livro de bolso, 'O Último Condenado' tomou-se-me toda a atenção. E no preciso momento em que chego ao destino, Victor Hugo diz-nos: «Os homens são todos condenados à morte com adiamentos indeterminados»

Álvaro Machado
- 18h18 - 22-05-2016

Comentários

Mensagens populares